O meu primeiro namorado "a sério"
Saudades da minha juventude perdida, dos amores (pensava eu) sentidos, enfim, daquela parvoíce toda que me rodopiava a cabeça.
Na creche tive alguns "namorados", mas claro, nada de sério. Eram apenas trocas de uns beijinhos (na face, claro está!), e já era um amor eterno de uma semana.
O meu verdadeiro amor aconteceu aos 11 anos de idade. Em tão tenra idade "apaixonei-me" pelo rapazinho sardento que andava na outra turma do 5º ano de escolaridade. Adivinhem só a alcunha do rapazolas? "Cagado das moscas"! Ora eu que achava tanta graça às sardas, pelos vistos, não era a opinião geral das criancinhas tão queridas ao apelidarem-no de tal forma. Aliás, eu era a "dentes de lata" por usar aparelho. Saudades desses tempos em que a crueldade não era sentimento que os meus coleguinhas trouxessem dentro deles, para quanto mais, exteriorizarem tal sentimento feio (risos)!
Adiante. O "Cagado das moscas" (sinceramente, esqueci-me do nome do meu 1º grande amor, como é isso possível? Alzheimer à vista...), um certo dia escreveu-me uma carta de amor à qual respondi de imediato. Impulsiva? Sempre, mas o nosso "namoro" foi assim, à base de troca de cartas (e sim, frequentávamos a mesma escola!). Para ser sincera, talvez os namoricos da creche tivessem sido mais "avançados" visto que sempre houve troca de beijinhos. Neste namoro "a sério", qual beijos qual quê? Queres conquistar-me, tens de dar à letra e provar que mereces o meu amor!
A idade já era outra e não me deixava enganar assim à primeira declaração de amor...
E assim, os meses foram passando até que no último dia de aulas do 3º período, fomos juntos fazer a longa viagem de autocarro da cidade até à aldeia. Tinha comprado um gelado, daqueles à base de gelo e aroma a fruta (muito saudáveis por sinal) e quando me sentei no autocarro comecei a ver a minha vida a andar para trás. O gelado começou a derreter e eu, impulsiva que sou, não queria sujar-me e dar uma má impressão no nosso derradeiro 1º encontro. Então toca de mandar o gelado pela janela - nem reparei se vinha alguma motorizada a ultrapassar o autocarro, não fosse o/a condutor/a da mesma levar com o gelado na testa e ainda causar danos graves ao/à senhor/a e quiçá, com algum azar, provocar a sua morte e ser acusada de homicídio involuntário em tão tenra idade. À exceção desse caricato episódio, a viagem correu bem, trocamos algumas palavras, mas nada de beijos. Respeitinho!!!
A infelicidade ocorreu 2 meses mais tarde quando mudei da aldeiola transmontana para uma cidade algarvia. Quase 800km nos separavam. Ainda houve troca de correspondência mas...o amor não resistiu a tamanha distância e assim terminou o meu primeiro grande "amor".
PS: Esqueci-me de referir ali algures, que certo dia a minha mãe encontrou todas as cartas que ele me tinha enviado. Rapidamente arranquei-lhe as folhas das mãos e rasguei-as justificando-me “Eram apontamentos da escola sem interesse”. Fiquei muito triste pois numa dessas cartas, o “Cagado das moscas” desenhou dois noivos (um pedido indireto de casamento?). Lá se foi a minha oportunidade!